BOAS VINDAS

"A física é para a vida" (Leonard Mlodnow)

domingo, 5 de janeiro de 2014

Rigor da classe docente




Os estudantes se queixam que professores dificultam a explicação e acreditam que o ensino conteudista não prepara seus discentes para o mercado de trabalho e para os exames de ingresso ao ensino superior. Professores (como eu) acreditam que o rigor tem seu momento. Ensino com sistematização e técnica por repetição é algo necessário até o fim do ensino superior. Este texto, como muitos aqui, tem por objetivo provocar a questão e evidenciar aquilo que a memória nos traz quando falamos no assunto.

Em dezembro do ano passado o resultado do Pisa1 apontou o Brasil em situação ainda bastante aquém da capacidade econômica do Brasil no cenário mundial. Outros índices, como o Sinaes2 e o Paebes3 não diferem muito do que diz a primeira avaliação. Baixos índices apontam a falta de abstração do aluno, sobretudo em ciências exatas. - Muitos apontam a famosa contextualização ou interpretação de um texto que o leve a saber realizar um procedimento matemático (entre outras capacidades, naturalmente).



Por que e quando devemos ser rigorosos?



Ao ler os livros de física e matemática do ensino superior, livros de direito que vejo serem muito importantes para a formação cidadã, Clarice Lispector, José Saramago, bula de remédio e vários outros textos, percebo como o rigor da professora Maria, austera e paciente por trás de seus óculos na minha 4ª série, foi fundamental. Dizia ela: "ler 10 vezes é pouco. Ler 20, também. Devemos ler até entender. Não existe um número".
Penso o mesmo sobre a tabuada de multiplicar, os nomes dos elementos químicos da tabela periódica, nomes de microorganismos que nos acometem em doenças diversas, todos eles têm sua importância em reproduzir-se pela técnica, leitura e releitura em nossas mentes. Se somos alunos do ensino básico, superior ou da cidadã vida cotidiana, não existe saída: sempre que houver a necessidade de superar algum conhecimento, traça-se foco e disciplina para transpor barreiras.

Qual o momento de exigir mais do que os alunos dão?




Uma vez me espantei quando fiz meu primeiro simulado em um preparatório para o vestibular. Um professor de literatura, após ouvir minha queixa, me expôs na sala de aula, na frente de vários colegas que riam de mim quando falei sobre essa coisa de acertar cada vez mais. "Chegar perto de 90% de acertos nunca será suficiente". De fato, não o é em muitos processos seletivos, como os de ingresso ao vestibular ou ao serviço público estável. Naquela época doeu o escárnio e não se falava em bullying mas hoje estou formado e aquilo que aos poucos me mata também me nutre. Não há mal em querer mais rigor mas não há receita de qual é a hora de se querer mais. Cada indivíduo dirá.

Estamos ficando mais "frágeis" e "expostos à hiperrigidez dos professores"? Se sim, isso nos torna melhores? Piores?

Uma memória: Uma menina fez enem na ufes neste final de ano e defecou propositalmente na sala a qual foi designada. Seu prostesto (então, não foi por acidente ou mal estar inesperado) ocorreu para chamar a atenção sobre a "palhaçada" que havia com os professores do Brasil que ficam "na boa descansando na praia enquanto os alunos estão se matando com o dito exame nacional".



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1, 2, 3 - Pisa (Programme for International Student Assessment), Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) e Paebes (Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo) são instrumentos de avaliação do rendimento das diferentes etapas da vida estudantil e em diferentes abrangências - internacional, nacional e estadual.

2 comentários:

Artur Rodrigues Machado disse...

Lembrei na nossa conversa durante o texto. Temi inclusive ser citado ao longo dele enquanto lia. Hehehhee.. muito bom!
abraços.

Unknown disse...

É tudo sempre muito complexo em se tratando de educação sistematizada. A escola não apenas prepara ou educa ou transforma, ela também precisa educara e preparar para esse conjunto de exames chatos e mesquinhos (vestibulares, concursos, ou o megalomaníaco Enem). Entretanto, o cocô da menina em sala de Enem não pode ser direcionada para os professores que ficam na praia: não são eles que inventaram Enem, vestibulares, concursos. Eles não são o MEC. E decididamente não ficam na praia o ano inteiro. Talvez no dia do Enem. Mas se for professor de cursinho, nem nesse dia. Etc.